Posso afirmar que o sentimento
que tem me assolado nos últimos dias é de RESSACA. É como se tivesse me
embriagado por uma estética disforme, desfigurada, de um cenário trash, no qual eu me sinto uma intrusa
ao mesmo tempo em que percebo que sou mais um dos coadjuvantes dessa “cena”
chamada de Leopoldina, que como dizia o músico poeta*: “(...) sonora verdade
(...) minha cidade”.
Não consigo no momento cantar
todos os versos, pois seria por demais contraditório, no presente “ato”, dizer
“mineira gostosa”, mas não me furtaria em destacar entre os versos a
inspiradora constatação: “alienada em função do futuro (...)”.
Por que não “mineira gostosa”?
Porque uma cidade em que lixos espalhados passaram a ser rotina em todos os bairros,
ruas, cantos, disputados por cachorros e por jovens em brincadeiras nada
agradáveis, não pode ser “gostosa”. Porque uma cidade em que os buracos são
constantes nas ruas e nas calçadas, isso quando se tem calçadas, não pode ser
“gostosa”. Porque uma cidade em que decepam árvores, arrancam história,
desprezam a cultura e o patrimônio, não pode ser “gostosa”.

Desde então venho me indagando
sobre o significado desse ato. O quê realmente isso nos diz? Seria aquela “Casa”
invisível às pessoas? Por que exatamente ali seria o local de colocar o lixo?
Qual a representação simbólica daquele lugar, daquele espaço para as pessoas?
Ou será que na verdade ela não representa nada para as pessoas, ao ponto de não
ser percebida na sua qualidade de ícone da cultura local? Seria ela para as
pessoas uma simples casa velha, em que não mora ninguém, por isso seria
permitido depositarem ali o lixo? Outra hipótese que pensei é que talvez pela
iluminação em frente a casa entenderam ser um bom local para colocar os sacos
de lixo para a coleta pelos lixeiros e desavisadamente não teriam percebido que
estão “promovendo” a Casa, em que o poeta Augusto dos Anjos passou seus últimos
dias, a lixeira da rua. Percebi que tudo isso produziu em mim um misto de
indignação, com admiração e até mesmo um silêncio profundo que me congelou e
precisei de alguns dias pra conseguir soltar minha voz e falar sobre isso.
O que acontece na Leopoldina em
que vivemos? O que estamos produzindo? Qual é nossa verdadeira tradição e o que
é cultura pra nós? E por fim, por que jogam lixo em frente a Casa/Museu em que
viveu o poeta Augusto dos Anjos????
*(Fragmentos dos versos do Músico/Poeta: Serginho do Rock)
*(Fragmentos dos versos do Músico/Poeta: Serginho do Rock)