Somos facilmente levados por uma onda, tanto uma onda real
no mar, nos rios, quanto numa onda virtual. É de se imaginar que a onda, para
nos arrebatar, precisasse ser uma grande onda, mas as vezes o que nos leva é
uma marola, ou seja, talvez não estejamos nos sustentando o suficiente para não
nos fazermos levar, ou ainda, nem boiar conseguimos e acabamos por nos afundar
num mar de crenças, num senso comum que pode não nos representar, pode não
corresponder com a pessoa que realmente somos, com nossa essência, que em meio
a tantas marés, estamos até desconhecendo.
Esse arrebatamento tem nos levado a lados opostos e
extremos, polarizado, em que quem está de um lado é oponente de quem está do outro.
As pessoas, naturalmente tem se digladiado, não no nível da discussão de
idéias, de conceitos, concepções, mas em nível pessoal, como se a verdade que
cada um assumiu como sua – o que não quer dizer necessariamente que seja – é a
única e absoluta verdade a se considerar.
Em meio a este emaranhado de ditos, falácias, palavras de
ordem podemos dizer que nossa maior crise é a “crise da verdade”. Ou talvez o
questionamento que tenhamos que nos fazer seja: “O que é verdade pra nós?”; ou “Qual
o nosso conceito de verdade?”; ou ainda: “A minha verdade é verdade para o
outro, ou vice-versa?”. Esta reflexão se torna pertinente pra nós porque
ouvimos muita coisa, é intenso o uso dos meios de comunicação de massa, as
redes sociais, são muitas informações que nos leva a pensar que é muito fácil “falar”
e são tantas vozes que o que está ficando cada vez mais difícil pra nós é o “escutar”.
Escutar principalmente no sentido “do que escutamos”; “quem escutamos”; “quando
escutamos”, entre outras interrogações nesse mar de falas, de palavras e, como
estamos chegando no nosso limite do “escutar”, estamos precisando de filtros,
precisamos educar a nossa capacidade de selecionar, de classificar, é quase que
colocar em prática os conceitos Piagetianos
básicos do lógico-matemático e como na pré-escola, exercitar a seriação, a
classificação, a conservação, entre outros.
Mas não deveria ser simples pensar na verdade, já que verdade
era pra ser verdade e pronto?! Mas aí temos nos deparado com a tal da
relatividade e, junto com ela, a tal da conveniência. Mas outros poderiam dizer
que se a verdade vem junto com a conveniência ela não deveria ser considerada
como verdade, mas... como discriminar essa conveniência, como “ler” nas
entrelinhas? Qual filtro vamos usar para fazermos essa classificação? Então
teríamos nós tipos de escutas diferenciados para assim entendermos os diversos
tipos de verdade? Se as pessoas falam por conveniência, usando da prerrogativa
do relativismo, então nossa escuta não seria também uma escuta de conveniência?
Verdade, falas, conveniências, escutas e... a maré vai
subindo e nós vamos perdendo nossa estabilidade, os pés vão saindo do chão, a
correnteza vai nos empurrando ou nos puxando e, num lapso de tempo, nos vemos
como que afogando, sufocando, vamos ficando sem oxigênio e a mente fica
confusa, não conseguimos pensar e acabamos por nos deixar levar... até que um “salvador”
nos resgate.
É bom então que observemos quantas boias estão disponíveis e
quem são os que estão a segurar as boias, pois dependendo do que estiver posto
a nossa volta, é melhor correr atrás de bons filtros de escuta e voltar a
aprender e colocar em prática a relação dos conceitos lógico-matemáticos em
nossas vidas, junto com as relações humanas que prescindem de direitos
fundamentais para o exercício da cidadania se fazer em toda a sua concretude,
numa sociedade plena de direitos, equitativa e igualitária.
[Imagens: Google Imagens]
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