Um século depois e ainda não
entendemos isso. Não entendemos as relações entre capital e trabalho, não
entendemos que a produção está na mão do trabalhador, que sem a produção os que
se acham donos do capital não terão o capital. Consequentemente, se o trabalhador
é o verdadeiro dono da produção também é dono do capital, com direito de
usufruir deste pela sua própria força de trabalho e produção. Não entendemos
que trabalhar e não poder usufruir da sua própria produção é um sistema
perverso, de uma sociedade que oprime, que segrega, que exclui que desqualifica
as pessoas em detrimento de uma minoria que muito pode ter e acumular, as
custas da grande massa que cada vez menos tem.
A grande massa do povo brasileiro escolheu
se calar e fechar os olhos (o que é um direito de cada um - sua própria
escolha); escolheu entregar totalmente na mão dos senhores parlamentares
as decisões quanto aos nossos destinos civis (parlamentares estes, na sua
grande maioria, que comodamente esqueceram o lugar que deveriam ocupar e o
papel que deveriam cumprir, em nome de um povo e de uma Nação e já há um bom
tempo, exercem seus mandatos exclusivamente para atender interesses pessoais); escolheu
aceitar uma Reforma de um Sistema de Previdência Social (que não precisava de
reforma e sim de que os governantes promovessem uma gestão mais eficaz e
eficiente dos recursos públicos e parassem de usurpar a Previdência, assim como
fazem desde a década de 1990); escolheu se fragmentar, se diluir em desavenças
partidárias, institucionais, em que o bem comum - que deveria ser o objetivo de
todos - se perdeu, obscurecido pelas relativas verdades individuais, pelos egos
exacerbados, pela animosidade das expectativas imprecisas, descarregadas entre
as pessoas, transfigurando o que é relação social e institucional em relação
pessoal.
Talvez seja essa a realidade a ser
vivida no momento atual: abrir mão de direitos trabalhistas, consolidados
ao longo dos anos; abrir mão de direitos outros, conquistados nos últimos
anos as custas de muita mobilização de parte da população e de segmentos
representativos da nossa sociedade; abrir mão de um satisfatório Sistema
Previdenciário e trabalhar por mais tempo, até a idade mais avançada e ao final
ainda aposentar com um salário menor, que talvez não garanta nossa condição e
qualidade de vida na velhice, assumindo assim o pagamento de uma conta que não
é nossa, mas que voluntariamente vamos pagar; abrir mão da nossa
capacidade de decisão, de exercício participativo e democrático, de fiscalizar
os poderes, de cobrar a reta ação dos nossos representantes nos poderes, de
organização social.
Depois de abrirmos a mão e
"soltarmos" tudo isso, se pelo menos nós conseguirmos
"formar" uma geração mais consciente, ativa, solidária e fraterna,
que assuma de forma sustentável sua própria história, sendo protagonista dela,
TUDO BEM!!!!! Podemos ficar tranquilos...
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