sábado, 5 de abril de 2008

AS DORES DO MUNDO

No meu último texto, refletia sobre a violência, sobre o excesso de notícias retratando essa violência no nosso dia a dia. O predomínio da intolerância, da intransigência, do ódio e demais sentimentos que endurecem os corações. Na última semana, a ferida ficou ainda mais exposta e mais uma criança virou mártir, no simbolismo da nossa aviltada sociedade. Acordamos, almoçamos, passamos o dia, jantamos e nos recolhemos para dormir na companhia do caso da menina que foi jogada pela janela.
Todos se solidarizam, se indignam, se emocionam, se sentem no lugar dos investigadores, fazendo afirmações com grande convicção, como se já tivessem solucionado o caso. Viramos juízes, promotores, detetives, psicólogos, algozes e tantos outros papéis numa sociedade confusa, onde a verdadeira identidade do que somos, está diluída em meio à corrida diária pela sobrevivência, pela carreira, pelas nossas metas a cumprir, pelos nossos sonhos a conquistar, pelo carro que queremos comprar, ou o que parece que nunca vamos poder TER, pela casa que ainda não temos, ou pela reforma que pretendemos fazer, pela disputa no trabalho, pela disputa das idéias, pela disputa das crenças, pelos conchavos politiqueiros e por tantos outros desencontros e buscas que provocam a constante inquietação do nosso SER.
Quantos mártires ainda faremos? Quantas mães vão ainda sangrar pela dor da perda, do “pedaço de si” que lhes é arrancado? É importante considerar que alguns casos ganham a mídia, viram destaques, são a notícia da vez para os meios de comunicação em massa, para os profissionais do ramo – sendo que muitas vezes é a chance de alguns desses profissionais, repórteres, fotógrafos e outros, ganharem prêmios nas respectivas categorias – é o trabalho deles, farejarem e enfatizarem o que toca a sociedade e provoca comoção geral. Mas quantos casos acontecem diariamente, quantas dores entre as paredes dos lares? Quantas crianças crescendo em sofrimento, quantas mulheres chorando em um canto, quantos homens tristes e sem esperança, rendidos a completa falta de controle de si? E o que não está aos nossos olhos e ouvidos?
As dores do mundo. As dores do mundo são as dores de cada um de nós, onde a dor de cada um é refletida em nós, na nossa incapacidade de sermos melhores e de construirmos um mundo melhor, da mesma forma que o que nos faz sofrer é refletido nos outros. Porque a ferida do outro é nossa própria ferida, que nos coloca frente a frente com as fragilidades e vulnerabilidade de nossa humanidade que ainda não conseguiu a vivência em plenitude do ser fraterno, do ser irmão, do verdadeiro amor. Somos aprendizes, mas aprendizes que sofrem com as perdas, com os descaminhos, com tudo que nos desagrada, mas que rapidamente cede a tentação da rotina que endurece o coração, que nos desumaniza. Somos aprendizes que sabemos o que não queremos, mas que não conseguimos construir o que queremos.
Mas sabemos amar, temos a emoção à flor da pele, temos sorriso farto, somos apaixonantes por sermos seres tão instigantes, cada um naquilo que lhe é único, na peculiaridade de cada SER. Trazemos conosco a divina partícula do princípio da criação, trazemos o universo em nós e somos seres integrantes dele. Somos aquilo que produzimos e o que histórico e socialmente construímos. Então se hoje convivemos com as agruras de uma sociedade edificada pelas guerras, pelas disputas, pelas diferenças, pelo autoritarismo, pelo poder financeiro corruptor e tantas outras mazelas, já está na hora de tecermos uma nova teia, uma teia que não nos sufoque e não nos esmague, ou que não arrebente, nos permitindo despencar no abismo da incredulidade, do rancor, do ódio, do desamor.
Precisamos edificar verdadeiramente a CULTURA DA PAZ. Nossa revolução, não pode mais ser com armas mirabolantes, ou pela força física, mas precisa ser a revolução do auto-conhecimento, do amor consciente e da crença incondicional na HUMANIDADE e suas positivas possibilidades. Mas essa idéia e concepção, é só o primeiro movimento do primeiro passo. Muito temos a fazer, como por exemplo, buscar dentro de nós, em nossas reflexões respostas as questões como: O que tenho feito no meu dia a dia que contribui para o bem estar daqueles com os quais eu convivo, ou até mesmo daqueles que esporadicamente eu encontro, pelas ruas, na casa ao lado, no meu trabalho? Como me relaciono com as crianças com as quais convivo? Que exemplo deixo para elas? Como as educo? O que tenho ensinado para elas? Edifico com as palavras ou o que mais faço é martelar eternas lamentações e maledicências? Somos vulneráveis aos constantes assédios e tentações do mundo que nós mesmos edificamos, mas somos mais vulneráveis ao que está dentro do nosso mais profundo ser, porque é lá que nos escondemos, que guardamos o que não permitimos transparecer aos outros e que de quando em vez, escapole nos momentos de tensão, quando somos confrontados com nossos limites.
Às vezes penso que se em meio às atribulações dos nossos dias, nesse tempo tão efervescente em que nos encontramos, nos perdemos em meio as nossas fragilidades, ou se permitimos que sentimentos outros nos ocupem o ser, talvez nossa sina da atualidade seja estarmos em vigília constante, por nós, pela nossa sociedade, pelo mundo, pela PAZ.

Claudia Conte