terça-feira, 19 de agosto de 2008

Música nas Escolas

Hoje, dia 19 de agosto de 2008, saiu publicado no Diário Oficial da União a alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96), garantindo a obrigatoriedade do ensino da Música na Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio).

Posso dizer que esperei com expectativa esse dia, onde divulgaria uma boa notícia. Mas, meu sentimento é mais de decepção, ou talvez de ressaca, ainda estou tentando definir. Acredito que é mais ou menos aquela sensação de "nadar, nadar e depois de muitas braçadas, morrer na praia, ou quem sabe, ir para a UTI". O Presidente da República sancionou o Projeto de Lei, mas vetou o Artigo que garantia a formação especializada para ministrar tal conteúdo. E o que isso quer dizer? Quer dizer que não foi a conquista esperada e necessária. Dizer numa Lei que a Música é obrigatória na integralização do Parágrafo 2º do Art. 26 da LDBEN, que dispõe sobre o Ensino de Arte dizendo: "O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos" e sendo do nosso conhecimento que nos Parâmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais, consta a Música entre as demais linguagens artísticas, já orientando para este trabalho, é quase uma redundância. E por fim, abrindo mão da especialidade na formação do profissional que ministrará esse conteúdo, é mais uma vez, brincar de fazer Educação.

Não queremos Leis para simplesmente polemizar, ou para reescrever o que já esta escrito, ou para garantir emprego para este ou aquele profissional. Queremos Leis que verdadeiramente correspondam aos ideais de Formação Humana, em consonância com as bases epistemológicas que edificam a Educação, a produção do conhecimento.

Garantir a obrigatoriedade do ensino da Música na Educação Básica e do Profissional Especializado não seria o fim de uma discussão e sim a continuidade de um amplo debate. Essa discussão já vem acontecendo nas principais instituições formadoras, nos eventos de referência na área. Essa proposta não é fruto da vontade de alguns profissionais, mas é conseqüência de estudos pesquisas, de muitos, ao longo de uma efetiva caminhada, produzido inclusive nas Universidades Públicas. Discutir sobre a estrutura e condições para essas aulas, sobre o currículo de formação do Educador Musical para atender a essa demanda, entre outros assuntos, já é uma realidade e seria mais intensa a partir da nova Legislação, o que com certeza nos levaria com o tempo a um trabalho de excelência e a melhoria dos resultados educacionais.

Mas e agora? O que vamos discutir? Vamos discutir que a Música já está lá, na área de arte e qualquer profissional está habilitado para ministrá-la? Será que vão distribuir cartilhas instrutivas e manuais, tentando convencer os Professores da Educação Básica que eles podem colocar mais esse ingrediente na salada mista que virou a rotina escolar? A salada mista de doce, já ficou salgada e ultimamente tem ficado amarga. Mas o meu maior questionamento é: Que música queremos nas escolas? Qual o verdadeiro objetivo de dizer que este é um conteúdo obrigatório na Escola? É para falar simplesmente que tem música na escola? Que Música é essa?

Não é fácil descartar o trabalho dos pesquisadores na área, não é fácil reduzir uma fundamentação tão séria, como a cognição da Arte no ser humano à atividades simplesmente recreativas, sem começo, meio e fim. Hoje já amargamos a perda do profissional especializado em Arte nos anos iniciais do Ensino Fundamental, pois na maioria das Escolas Públicas, esse conteúdo foi integralizado às outras tarefas do Professor Regente, que está longe de ter tido uma formação para esta ação. Mais uma vez é a "boa vontade", a "intuição" do Professor. Se é a Escola a responsável institucionalmente pela Formação Humana, por que não há seriedade na formação e direcionamento das equipe profissionais? Podemos só repetir uma velha citação (mas que parece que ainda não teve a devida atenção): "não sentamos numa cadeira odontológica para tratar de dente com uma pessoa que não é formada em Odontologia, com diploma reconhecido, mas as nossas crianças sentam todos os dias nas cadeiras escolares diante de professores leigos, sem formação específica para as áreas que atuam". Mas, não nos importamos, “pra formar pessoas, qualquer um serve, é só ter boa vontade, ou estar precisando de emprego”. Incomoda ouvir isso? Para algumas pessoas, incomoda a dor de dente, que é momentânea, não incomodaria tanto os equívocos educacionais, não sentimos num primeiro momento, em nossa própria pele, mas essas conseqüências, vamos sentir por toda uma vida, por gerações e com certeza, vai nos incomodar muito mais que a momentânea dor de dente.

Não quero que as pessoas sintam dor de dente e se acomodem com isso, mas também não quero que as crianças sejam privadas de uma formação integral, uma formação na essência do seu ser, em plenitude. Aí sim, estaremos Construindo uma Sociedade Justa, Igualitária, Fraterna e Próspera.

Atualmente a Arte está fora do cotidiano escolar, falta Estética, Criatividade, Sensibilidade, Humanização, Música, Amor... E em alguns lugares, falta comida na barriga dos alunos. Essa é a Escola que temos e assim será o País que teremos.

Profª Claudia Conte

segunda-feira, 19 de maio de 2008

RESULTADOS ESCOLARES

Estive sem postar por um período, abandonando um pouco o meu recém nascido Blog. Foi um momento de muitos afazeres e compromissos e também uma certa "crise de inspiração". Mas agora retomo minha proposta, inclusive melhorando a página incluindo sugestões de links e referências bibliográficas, imagens e vídeos e novas enquetes.
O tema que escolhi destacar nessa retomada, é sobre os Resultados Educacionais. Tema este, que considero de grande importância na nossa reflexão, tanto em relação a Educação, como em relação a nossa Sociedade. Não considero que na nossa análise, devemos nos limitar a posição dessa ou daquela escola, ou desse ou daquele município no ranking dos resultados educacionais, mas principalmente, qual a nossa posição nesse ranking, ou seja, qual a posição de cada um de nós? Como nós nos colocamos, nos posicionamos nessa escala? Como nos vemos nos enxergamos em meio a esses números, planilhas, gráficos, tabelas, entre outros? Sejamos nós professores, pais, alunos, gestores, cidadãos, pessoas...

Nos últimos dias, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, divulgou os resultados do PROEB 2007. O PROEB, integra o Sistema Mineiro de Avaliação (SIMAVE) e avalia o desempenho dos alunos nas Escolas Públicas no 5º ano (antes 4ª série ou Fase IV) e no 9º ano (antes 8ª série), do Ensino Fundamental e o 3º ano do Ensino Médio.
Quanto a participação dos alunos, tivemos índices entre 80 à 94 %, dos alunos, sendo o maior índice nos anos iniciais do Ensino Fundamental e as porcentagens mais baixas de participação, no Ensino Médio. Em relação ao número de alunos presentes na avaliação, também é um dado que nos leva a questionamentos como: A diferença entre o número de alunos previsto e o número que participa da avaliação no dia desta acontece por que esse aluno está ausente da escola, ou por que o número de alunos informado através dos instrumentos de coleta de dados, como o Censo Escolar e outros, não retrata a realidade escolar? Se o caso for uma divergência entre o dado informado e a realidade da Escola, o que fazer para que os instrumentos de informação educacional, o banco de dados, seja cada vez mais próximo da realidade das escolas?

O PROEB avalia o desempenho dos alunos na Lingua Portuguesa e na Matemática nos finais de etapas da escolaridade, ou seja, final dos Ciclos de Alfabetização e Complementar, que são os anos iniciais do Ensino Fundamental; final do Ensino Fundamental e final do Ensino Médio. Através do CAED da UFJF, da preparação à avaliação e apuração dos resultados, é feito um trabalho minuncioso para análise das avaliações, tanto através de procedimentos estatísticos, quanto de análises pedagógicas, para se chegar assim a uma escala de proficiência dos alunos nas diferentes etapas, descrevendo assim as capacidades e habilidades de cada nível/etapa de ensino.
Esse é sem dúvida, o maior mérito de uma Avaliação Externa, produzir um material de referência para o processo ensino/aprendizagem. Conduzir para uma constante reflexão a partir de um diagnóstico preciso do desenvolvimento real de cada aluno e a partir desse diagnóstico, delinear as intervenções necessárias para alcançar a aprendizagem das capacidades e habilidades básicas com todos os alunos, não deixando de considerar as especificidades de cada um. Nos auxilia a lembrar sempre que o processo é dinâmico e requer constante planejamento e replanejamento e principalmente, trabalho coletivo. É o olhar de todos na Escola para o aluno, como sendo sujeito da aprendizagem sob a responsabilidade de todos e não exclusivamente de uma única professora. Há uma fala que tenho ouvido sempre, mas que ainda não observei a prática desta citação na grande maioria dos casos: "O aluno é o aluno da Escola e não só do professor que está com ele naquele ano".

Quando olhamos para os resultados, percebemos que muito temos a fazer. As Escolas precisam repensar sua estrutura curricular, sua rotina, sua organização, seus espaços, entre outros; os professores precisam repensar suas práticas, estratégias e procedimentos, acreditar na sua própria capacidade, nas possibilidades dos alunos e buscar cada vez mais construir competências para sua ação; os Gestores Escolares, precisam repensar sua gestão, seu planejamento, rever suas metas de trabalho, seu Plano de Ação e propor a construção coletiva desse planejamento, da Proposta Pedagógica da Escola e articular os meios para a efetivação destes; os Especialistas/Pedagogos (Supervisores e Orientadores), precisam assumir seu lugar como Coordenadores/Articuladores Pedagógicos, responsáveis pela articulação das instâncias educacionais para o desencadear de todo o processo, são esses profissioais que com um olhar muito atento e apurado acompanham todas as ações que vão interferir diretamente no desenvolvimento pedagógico dos alunos na Escola e precisam cada vez mais construir competências para essa tarefa; as famílias precisam resgatar o 1º lugar como formadoras/educadoras dos futuros homens e mulheres, que serão as futuras famílias da nossa sociedade, precisam se apropriar do papel de provedores e orientadores do desenvolvimento de seus filhos, guardiãs dos valores da formação ética dos homens e o sistemas precisam promover políticas sustentáveis e duradouras para o desenvolvimento da Educação, garantindo a valorização dos Profissionais, as condições materiais e tecnológicas para as Escolas, a formação continuada para os Profissionais, num processo contínuo, sem rupturas e excesso de experimentação, agindo no sentido de fazer os Planos, Projetos e Programas se efetivarem e chegarem a fase de validação, pois já temos histórias suficientes para contar, das boas idéias que se quer chegaram na fase do acompanhamento; e a sociedade, precisa ser participativa, ativa no processo educacional, se interessar pelo que acontece nas Escolas e com as famílias, se envolver verdadeiramente e não se limitar a prática do telespectador que assiste, comenta e não se movimenta.
A Educação produz Homens e transforma, mas ela também pode se limitar a reproduzir o modelo de relação social e de sociedade que escolhermos e esta escolha se dá, na maioria das vezes de forma inconsciente, pela nossa omissão diária. Se a Escola é a nossa instância maior dessa formação (foi opção da nossa sociedade, institucionalizar um espaço para a formação humana), somos todos responsáveis por essa instituição, somos todos zeladores dela, nem que a nossa tarefa seja a de arautos junto aos sistemas responsáveis para garantir que a Escola seja sempre e cada vez mais, espaço de excelência na formação dos homens.
Além de promover a Avaliação do desempenho escolar dos alunos, através do PROEB e do PROALFA e fornecer e orientar o material para a análise pedagógica dos resultados, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, tem trabalhado com uma proposta de acompanhamento direto às Escolas, através dos Técnicos (Analistas e Inspetores Escolares) das 46 Superintendências Regionais de Ensino, estimulanto o trabalho coletivo nas escolas, os Ciclos de Estudos entre os Profissionais, o acompanhamento constante do desenvolvimento dos alunos para uma intervenção pertinente e imediata. Cada uma das Escolas Estaduais, receberam Metas propostas anualmente de 2008 à 2010, pactuadas entre o Gestor Escolar, o Colegiado Escolar e a Secretaria de Estado de Educação. Nessa lógica, as Superintendências têm suas Metas a cumprir e a Secretaria de estado de Educação também, tudo em consonância com a política Estadual, Nacional e Internacional.
O caminho parece longo e árduo, mas já estamos todos nesse caminho, essa é a nossa jornada. O fundamental é sabermos onde estamos e como estamos e, para onde estamos indo, onde queremos chegar e do que precisamos para chegarmos lá. E em meio a tantas atribulações o que realmente nos mantém no caminho, é a nossa indispensável e incondicional crença na CAPACIDADE HUMANA.
Mais detalhes sobre os resultados educacionais em Minas Gerais e das Escolas de nossa região, é só acesar o site da Secretaria de Estado de Educação, no endereço: www.educacao.mg.gov.br, tanto no Portal, quanto no link SIMAVE.

sábado, 5 de abril de 2008

AS DORES DO MUNDO

No meu último texto, refletia sobre a violência, sobre o excesso de notícias retratando essa violência no nosso dia a dia. O predomínio da intolerância, da intransigência, do ódio e demais sentimentos que endurecem os corações. Na última semana, a ferida ficou ainda mais exposta e mais uma criança virou mártir, no simbolismo da nossa aviltada sociedade. Acordamos, almoçamos, passamos o dia, jantamos e nos recolhemos para dormir na companhia do caso da menina que foi jogada pela janela.
Todos se solidarizam, se indignam, se emocionam, se sentem no lugar dos investigadores, fazendo afirmações com grande convicção, como se já tivessem solucionado o caso. Viramos juízes, promotores, detetives, psicólogos, algozes e tantos outros papéis numa sociedade confusa, onde a verdadeira identidade do que somos, está diluída em meio à corrida diária pela sobrevivência, pela carreira, pelas nossas metas a cumprir, pelos nossos sonhos a conquistar, pelo carro que queremos comprar, ou o que parece que nunca vamos poder TER, pela casa que ainda não temos, ou pela reforma que pretendemos fazer, pela disputa no trabalho, pela disputa das idéias, pela disputa das crenças, pelos conchavos politiqueiros e por tantos outros desencontros e buscas que provocam a constante inquietação do nosso SER.
Quantos mártires ainda faremos? Quantas mães vão ainda sangrar pela dor da perda, do “pedaço de si” que lhes é arrancado? É importante considerar que alguns casos ganham a mídia, viram destaques, são a notícia da vez para os meios de comunicação em massa, para os profissionais do ramo – sendo que muitas vezes é a chance de alguns desses profissionais, repórteres, fotógrafos e outros, ganharem prêmios nas respectivas categorias – é o trabalho deles, farejarem e enfatizarem o que toca a sociedade e provoca comoção geral. Mas quantos casos acontecem diariamente, quantas dores entre as paredes dos lares? Quantas crianças crescendo em sofrimento, quantas mulheres chorando em um canto, quantos homens tristes e sem esperança, rendidos a completa falta de controle de si? E o que não está aos nossos olhos e ouvidos?
As dores do mundo. As dores do mundo são as dores de cada um de nós, onde a dor de cada um é refletida em nós, na nossa incapacidade de sermos melhores e de construirmos um mundo melhor, da mesma forma que o que nos faz sofrer é refletido nos outros. Porque a ferida do outro é nossa própria ferida, que nos coloca frente a frente com as fragilidades e vulnerabilidade de nossa humanidade que ainda não conseguiu a vivência em plenitude do ser fraterno, do ser irmão, do verdadeiro amor. Somos aprendizes, mas aprendizes que sofrem com as perdas, com os descaminhos, com tudo que nos desagrada, mas que rapidamente cede a tentação da rotina que endurece o coração, que nos desumaniza. Somos aprendizes que sabemos o que não queremos, mas que não conseguimos construir o que queremos.
Mas sabemos amar, temos a emoção à flor da pele, temos sorriso farto, somos apaixonantes por sermos seres tão instigantes, cada um naquilo que lhe é único, na peculiaridade de cada SER. Trazemos conosco a divina partícula do princípio da criação, trazemos o universo em nós e somos seres integrantes dele. Somos aquilo que produzimos e o que histórico e socialmente construímos. Então se hoje convivemos com as agruras de uma sociedade edificada pelas guerras, pelas disputas, pelas diferenças, pelo autoritarismo, pelo poder financeiro corruptor e tantas outras mazelas, já está na hora de tecermos uma nova teia, uma teia que não nos sufoque e não nos esmague, ou que não arrebente, nos permitindo despencar no abismo da incredulidade, do rancor, do ódio, do desamor.
Precisamos edificar verdadeiramente a CULTURA DA PAZ. Nossa revolução, não pode mais ser com armas mirabolantes, ou pela força física, mas precisa ser a revolução do auto-conhecimento, do amor consciente e da crença incondicional na HUMANIDADE e suas positivas possibilidades. Mas essa idéia e concepção, é só o primeiro movimento do primeiro passo. Muito temos a fazer, como por exemplo, buscar dentro de nós, em nossas reflexões respostas as questões como: O que tenho feito no meu dia a dia que contribui para o bem estar daqueles com os quais eu convivo, ou até mesmo daqueles que esporadicamente eu encontro, pelas ruas, na casa ao lado, no meu trabalho? Como me relaciono com as crianças com as quais convivo? Que exemplo deixo para elas? Como as educo? O que tenho ensinado para elas? Edifico com as palavras ou o que mais faço é martelar eternas lamentações e maledicências? Somos vulneráveis aos constantes assédios e tentações do mundo que nós mesmos edificamos, mas somos mais vulneráveis ao que está dentro do nosso mais profundo ser, porque é lá que nos escondemos, que guardamos o que não permitimos transparecer aos outros e que de quando em vez, escapole nos momentos de tensão, quando somos confrontados com nossos limites.
Às vezes penso que se em meio às atribulações dos nossos dias, nesse tempo tão efervescente em que nos encontramos, nos perdemos em meio as nossas fragilidades, ou se permitimos que sentimentos outros nos ocupem o ser, talvez nossa sina da atualidade seja estarmos em vigília constante, por nós, pela nossa sociedade, pelo mundo, pela PAZ.

Claudia Conte

domingo, 16 de março de 2008

Por quê de tanta violência?

Nessa última semana fiquei bastante incomodada com as notícias nos meios de comunicação que retratavam excesso de violência entre as pessoas no trânsito. Tanta intolerância! Cenas onde pessoas saíam do carro e batiam em outras, umas já com armas em punho atirando e fazendo vítimas como crianças e outras pessoas que nada tinham com as discussões. Hoje, abri o jornal de domingo pela manhã e me deparei com a notícia de primeira página sobre a intolerância religiosa no Rio de Janeiro, onde pessoas estão sendo intimidadas e expulsas de suas comunidades por sua crença religiosa. Cenas de opressão, de perseguição, que provoca em nós uma triste sensação de volta ao passado. É como se no nosso movimento espiral para a evolução, estivéssemos numa curva baixa, onde nos aproximamos muito dos tempos inquisitores, do credo escontido e contido nos porões. Agora a noite, num programa de televisão, vi uma reportagem sobre brigas entre alunos em Escolas (públicas e privadas). Brigas que estão provocando mutilações, cicatrizes (no corpo e na alma) e risco de morte. E como frase da vez (de um dos agressores): "não levo disaforo para casa, revido na hora". Por quê? E o quê fazermos? Como estaremos no futuro próximo?
Espero não passar a idéia de pessimismo ou negativismo extremo, não é esta a intenção. Pretendo provocar uma reflexão, chamando a atenção para a mudança urgente de comportamento, de atitude (individual e coletiva). Todos somos responsáveis pela sociedade que construimos e que estamos construindo a todo instante - "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória". O quê estamos semeando agora nesse exato momento? Intolerância, omissão, egoísmo, impaciencia, fúria, discriminação, preconceito, tristeza...
Precisamos de um esforço diário, coletivo e insistentemente disciplinado, para semearmos a pasciência, a compaixão, a fraternidade, a alegria, a fé, o amor incondicional, a crença absoluta no poder da humanidade de ser melhor e de construir uma sociedade possível para todos. Parece sonho? Mas se assim for, o que é o sonho senão a primeira etapa do que queremos. Tudo começa no sonho e se realiza nas pessoas e a partir delas. Precisamos ampliar o nosso "olhar" e abrir cada vez mais nossa "escuta" em relação ao outro. E precisamos educar as crianças, amá-las em primeiro lugar, incondicionalmente, porque o amor, nos faz respeitar. Educá-las nos valores fundamentais da convivência humana, na ética, mas tudo com alegria, sem sofrimento, mas com a firmeza e consistência de quem sabe que constrói uma sociedade plena, que se auto sustenta e se desenvolve em convivência pacífica entre os homens e a natureza. E não uma sociedade predatória, que se auto-destrói e destrói sua própria casa, deixando uma história amarga para poucos sobreviventes contarem.
Me recolhi para repousar com o coração em esperança, porque também nessa noite de domingo, vi uma reportagem na televisão sobre um Bombeiro que morreu no cumprimento de seu dever, onde o destaque era sua história de vida. Ele foi acolhido por uma família quando menino, nas ruas de uma cidade do Espírito Santo, onde vivia, cometia pequenos furtos, estava lá, como mais um dos nossos "Guris", aparentemente sem esperança, sendo apontado por todos nós, como o "Menino de Rua" que "não tem jeito". Mas ele teve jeito, acolhido, educado, amado, respeitado, se fez Homem, se fez Profissional, se fez Herói Nacional e nos mostrou que a humanidade é plena de possibilidades e que o bem pode prevalecer, mas precisamos querer, acreditar e agir.
A esse ilustre Menino, Homem, Bombeiro, Herói e a sua Mãe, dedico minhas reflexões e minha crença.
Claudia Conte

quarta-feira, 12 de março de 2008

EDUCAÇÃO E LIBERTAÇÃO

Falar de Educação e Libertação me faz voltar no tempo, quando fazia minha formação para o magistério e na Pedagogia e fiz minha primeira pesquisa bibliográfica sobre Paulo Freire. Lembro que minha empolgação foi tão grande que comprei três livros dele em curto espaço de tempo. Foi um momento mágico. Me deparar com um homem tão sábio, defendendo idéias que nos remetiam as bandeiras políticas da libertação, da não opressão, da organização social, do saber como maior riqueza e conquista na ascensão social do nosso povo. Não era difícil de se apaixonar. Nas vertentes da social democracia e educação, líamos também Guiomar de Mello, Pedro Demo, ouvimos os discursos do Professor Neidson Rodrigues e tantos outros que foram grandes inspiradores.

Hoje, olhamos para trás e temos vontade de perguntar: em qual momento na nossa caminhada, perdemos nosso rumo, ou onde tropeçamos? O que fizemos até aqui? E são esses questionamentos que nos levam a outros mais: Como retomar nosso caminho e nossos ideais? Quais as pedras que nos entravam e como retirá-las do caminho? Temos conosco um cansaço, uma ressaca, de quem fez muito até aqui, uma sensação de um fazer constante, incessante mas que não nos conforta, fica sempre um vazio e uma incerteza em relação ao caminho que estamos percorrendo. Me pergunto em que momento do caminho nos confundimos? Uma vez que, as nossas convicções, bem como as convicções dos nossos autores e pesquisadores de referência, eram tão claras, que parecíamos ter certeza do caminho. Mas porque não alcançamos a tão almejada justiça social e a cidadania plena dos nossos alunos? Por que toda uma geração parece-nos alienada e tão desestimulada, quando dizíamos que a escola libertaria e contribuiria na produção da sociedade para todos? O que produzimos então? Quem são nossos vilões e por que nos redemos a eles?

Parece que estamos vivemos hoje uma crise de identidades na Educação. Em meio a nossa confusão social: valores distorcidos e até mesmo a total inversão destes, substituição de papeis, famílias excessivamente desagregadas, transferência de responsabilidades, indefinições de competências e outros, nos deparamos com professores que não se identificam mais com a figura do “educador” e alunos sem a identificação com o “ser estudante”. E contraditoriamente, cobramos dos profissionais da educação, que todos são educadores, isto, depois de termos quebrado completamente o status quo deste profissional, fazendo-o despencar de uma posição social de autoridade na nossa sociedade, entre os profissionais de maior prestígio social e conseqüentemente até financeiro para um patamar de emprego, frente de trabalho para muitos, profissão de desgosto para outros e chacota fácil na boca do povo, inclusive dos próprios alunos. Fato este, que rebaixou a posição social do profissional da educação, fazendo cair seu padrão de vida.

Os alunos, hoje “freqüentadores” de aula, não se portam como estudantes, dificilmente se concentram nas tarefas em casa ou nos estudos diários. Dividem sua atenção com os atuais sistemas de comunicação e informação, com a tecnologia, ou com a simples tarefa de estar ocioso, mesmo com tanto a fazer. Os alunos atualmente, têm sede de informação rápida, resumida, compacta e se puderem se ocupar somente no horário da escola, é o que preferem, sendo que mesmo assim, a concentração e dedicação nas aulas, não são satisfatórias. Nos rendemos a uma sociedade e fazeres minimalistas, e nos contentamos com a média, sejamos professores ou alunos.

O resultado visível de tudo isso, aparece na rotina de vários professores que muitas vezes, em meio a uma jornada tripla de trabalho, não conseguem se organizar com suas tarefas e materiais , não estudam, não preparam suas aulas, não têm planejamento e ainda acabam por descontar suas mazelas, desânimo, descrença, frustrações e mágoas em quem não deveriam: no aluno.

E muitos desses alunos, que não mais estudam, insistem em dizer que querem o mais fácil na escola, ironizam, testam o tempo todo a paciência do professor, não o respeitam, como também não respeitam os pais ou qualquer hierarquia familiar ou social. Dizem não terem perspectiva sobre o que querem, parecem que não importam em aprender, tentam ganhar o mínimo de nota, nivelam tudo por baixo, não sabem o que querem, não conseguem mais se organizar produtivamente nos grêmios e muitas vezes, não sabem como conversar e nem com quem conversar na escola diante dos seus problemas. O que eles fazem muitas vezes, é se omitirem, se calarem e se ausentarem das aulas, fugindo dos problemas.

Todos os outros profissionais da escola, parecem ter no comportamento, um desdobramento desta questão básica de identificação dos professores e dos alunos. Para a família é destinado um grande discurso de culpa. Culpa que a escola a imputa, que a sociedade lhe aponta e a culpa que ela mesma lhe impõe, assumindo um fracasso até mesmo antes do filho nascer e crescer. Ficamos em meio a um jogo onde transfere-se culpas e responsabilidades: da família para a escola, da escola para a família, dos profissionais para os órgãos governamentais e destes para os profissionais, sem contar o que ainda reflete das outras instituições sociais.

Mas as grandes questões nas quais insisto são: e as nossas crianças, como e onde estão as nossas crianças? E o nosso sonho de liberdade, a nossa educação libertadora? E a produção da sociedade justa, plena, do direito pleno do cidadão, o tão anunciado: exercício pleno da cidadania? Será que lembraremos das idéias de Paulo Freire como idéias que temos que retomar, ou será que nunca concebemos, compreendemos e vivemos verdadeiramente essas idéias? Será que o nosso tempo para compreender esses pensadores era maior do que imaginávamos e só agora, depois de tanta confusão e desencontros, vamos nos encontrar, compreender e praticar essas idéias? Será que estávamos no caminho e nos perdemos, sem percebermos ou alguma avalanche de pedras nos interrompeu e ainda estamos desbloqueando a estrada, nos livrando das barreiras para que possamos seguir em frente?

Talvez seja uma a resposta, ou talvez estejam todas as respostas contidas numa única certeza. A certeza de que muito temos a fazer, que a nossa responsabilidade é muito grande e que seja lá qual for o motivo, ou quem quer que seja que sabotou nossa caminhada e nos fez confundir nossos passos, está em nossas mãos a retomada do caminho, com a plenitude, com a consciência, com a força e a certeza de que somos educadores e de que a educação constrói, liberta, inclui e humaniza as pessoas e só isso nos faz crescer e desenvolver.


Claudia Conte dos Anjos Lacerda
Pedagoga, Diretora Educacional na
SRE-Leopoldina-SEE/MG

Agosto de 2005

domingo, 9 de março de 2008

Pelo Dia Internacional da Mulher-08/03/2008

"COM LICENÇA POÉTICA

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombetas, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.
Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos – dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree.
Já minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou."

Adélia Prado