quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

FINAL DE FESTA... FINAL DE CARNAVAL (SERÁ?)

E assim vamos chegando ao fim de mais um Carnaval. Será???

Pelo menos é o que está previsto no nosso calendário oficial e mesmo que existam resistências, oficialmente, o Carnaval se encerra nesta noite. Amanhecemos com a "Quarta-feira de Cinzas", data significativa do calendário cristão. O que nos leva a lembrar que nos despedimos da considerada "festa pagã" para nos prepararmos para a importante "festa cristã" - a Páscoa. O que não seria esta preparação se não um convite a introspecção, a penitências, privações, reflexões típicas do tempo da Quaresma cristã. Tudo tão providencial, ou seja, precisamos de uns quarenta dias pra nos purificarmos da alegria transbordante e até das inconsequências da festa pagã - o Carnaval, para estarmos aptos para o Tempo Pascal.

O calendário vai nos guiando... nos permite o estravazar entre as danças, as músicas, o samba e outros ritmos, as gargalhadas, as pessoas e depois nos coloca em silêncio, em profundo silêncio, para que o equilíbrio seja retomado, supondo assim, que depois da Páscoa, estejamos sãos, em mente e corpo. Será??

Não somos tão regulares assim, por mais que os padrões, formalismos e convenções religiosas e sociais nos tentam fazer ser. Vivemos em meio a sentidos relativizados pelas realidades que vivenciamos entre os tempos e acontecimentos aos quais somos platéia e ao mesmo tempo atores. O que dizer então deste momento? 

Terminamos um ano em meio a grandes conturbações e iniciamos com muitas incertezas, mas a capacidade do nosso povo de não perder o bom humor, ou seja, de "não perder a piada" (ou até mesmo a necessidade de sobreviver em meio ao caos) parece nos conduzir a buscas incessantes por "rotas de fuga". Assim, mesmo com dívidas, desemprego, incertezas, falta de médico nas emergências, falta de vagas nas creches, hospitais, violência nas ruas, nos lares, intolerância racial, religiosa, homofobia, corrupção, escândalos e... caímos no Carnaval!!! Nos rendemos ao Reinado do Momo! E muitas pessoas fazem destes dias sonhos em folia, é a "Ode à Ausência". É como se o país ficasse em suspensão nesses dias e às pessoas fosse permitido se ausentarem de si. Se ausentarem de seus problemas, suas dívidas, suas dores, tristezas, angustias, preocupações, se ausentarem dos problemas do país e até do mundo.

Mas como diz o dito popular: "tudo que é bom dura pouco", podemos emendar, lembrando Noel Rosa na composição Baile da Flor-de-lis, "acabou-se o que era doce, quem comeu arregalou-se (...)". E assim chegamos a quarta-feira, também reconhecida como o dia da ressaca de Carnaval. Há os que ainda com ironia, vão dizer que é quarta-feira de cinzas porque só restaram as cinzas depois de tanta folia esfuziante! E porque não aproveitar de outro compositor/poeta e lembrar Vinicius de Moraes quando falou pra nós de "Felicidade" dizendo "Tristeza não tem fim, felicidade sim (...) A gente trabalha o ano inteiro, por um momento de sonho, pra fazer a fantasia de rei ou de pirata ou jardineira, pra tudo se acabar na quarta-feira (...)". Será??

O que realmente se acaba na quarta-feira? O sonho, a ilusão ou a alegria? Se dissermos que a alegria caba, estamos assumindo uma depressão generalizada, numa sociedade que esquizofrenicamente sofreria de uma bipolaridade, passando de um extremo ao outro nos estágios do humor. Se dissermos que acaba o sonho, nos despediríamos de nossa capacidade de sonhar e de querer dias melhores. Se acaba a ilusão despertamos da ausência de si. Este é um despertar necessário, mas quantos assim o querem realmente? Estar ausente é um grande apelo de nossas sociedade atual, que busca subterfúgios diariamente, que faz aumentar o consumo de álcool, na cervejinha de praxe, na passadinha sagrada no botequim pra pinga com os amigos, no aumento das cracolândias, na engorda dos lucros farmacêuticos com o consumo de psicotrópicos, os "tarjas pretas", já tão banalizados e quase que incorporados na rotina da população.

Não seria então a quarta-feira no lugar de um fim, um começo, o despertar para o ano que realmente precisa começar, numa roda que precisa rodar, que não pode parar? Seria sim as portas se abrindo para o necessário despertar de nossa consciência, pra não perdermos o "trem da história", ou ainda, pra não corrermos o risco da "banda passar" e não chegarmos em tempo na praça, no coreto, na janela, na rua...

O ano precisa começar e nós precisamos caminhar adiante, mesmo que estejamos um tanto quando perdidos em meio as intempéries do caminho. Não precisamos abrir mão da alegria em toda sua intensidade, sem camuflagens ou muletas para parecer alegres. Se como dizem, cada momento é único, lembrando mais uma vez o "Poetinha":  "que seja infinito enquanto dure"...

E o que sobrou do Carnaval? Muito lixo pelas ruas é fato!

Talvez dores de cabeça para uns tantos (ressaca física e/ou moral), cansaço para outros, satisfação, desejo de quero mais, arrependimento, tristeza pra alguns, muitas histórias pra contar, energia pra outros, aborrecimentos, muitas e muitas emoções!!...

Mas com certeza, tem muitos já desejando que chegue logo a Semana Santa, pra não perder de vista as "rotas de fuga", e assim ganhar mais uns dias de cúmplice ausência...

Imagens: Google Imagens